A batalha da Lua Negra
Na
estação do inverno em que o sol era menos presente na região do norte durante
os dias, a luz da lua se manifestava como uma capa gelada durante a noite, o ar
era pesado e denso durante as manhãs e a névoa se fazia presente por quase todo
o tempo, nessa época reaparecia na cabeça dos elfos da floresta do norte uma
atenção especial voltada para as montanhas geladas. Era nesse tempo que nas
margens da grande floresta acontecia constantes batalhas contra os chamados
demônios albinos, liderados por Thuruk, um orc singular entre os de sua raça.
Como de costume, durante esta época, o conselho de liderança élfico se reunia
na torre da cidade de Defria e traçava seus planos de defesa contra os ataques
dos demônios albinos. Elfrent domava e capacitava todos os tipos de feras e
sedia ao exercito das fronteiras da floresta, colocava o raro veneno produzido
nas pontas das flechas e na lamina das espadas, Braziel dobrava a vigilância
nos pontos mais comuns de combate, mantinha todo o exercito alerta e criava
varias armadilhas no interior da floresta, Fwina e seus elfos portadores da
magia élfica mantinham vigilância constante nas montanhas geladas para que
assim não fossem pegos desprevenidos. E assim era feito todo o planejamento
para defender o reino dos ataques.
Braziel tinha
dois filhos, Malfurian e Brauz. Brauz tinha habilidades diferenciadas ate para
um elfo em arco e flecha e no manuseio de espada, ocupava um cargo de comando
nas tropas que defendiam as margens da floresta. Já Malfurian não apresentava
ter nenhuma virtude que servisse aos três alicerces do reino élfico, ele não
tinha habilidades com armas, não apresentava vocação pra magia e nem tinha
interesse no aprendizado que Elfrent ensinava, era apenas um elfo comum e
morava em uma das cidades mais ao norte de nome Mafria.
Certa noite, uma das mais frias da estação, onde a lua se pôs no céu com uma
cor escura e frigida, como se estivesse carregada de pesadelos e maldade. Brauz
fazia a guarda junto aos seus guerreiros à margem norte da floresta, esta
findava bem aos pés das montanhas geladas, no horizonte não se enxergava nada,
apenas a densa e fria nevoa preenchendo a escuridão da noite, o silêncio era
pacificamente perturbador e nada tirava a atenção e vigilância dos elfos.
Duren o
segundo no comando depois de Brauz, era também um amigo desde os tempos de
infância, os dois cresceram juntos e participaram do mesmo treinamento em
armas. Brauz tinha um sentimento por Duren que se igualava ao que sentia por
Malfurian, seu irmão.
Duren andou um
pouco pra frente das margens das árvores até sentir a brisa que a névoa gelada
emitia no horizonte e olhou para o céu esperando entender o porquê da lua se
fazer presente daquela maneira, e então em questão de segundos um machado
passou no horizonte cortando a densa névoa e emitindo um som semelhante a um
zunido que ia ficando cada vez mais alto a medida que se aproximava, o machado
bateu no peito de Duren e o impacto foi tão intenso que fez com que ele
partisse ao meio e antes que seu corpo caísse no chão uma multidão de demônios
albinos apareceu em meio à névoa quase imperceptíveis.
Os seres
corriam como se precisassem daquilo para viver, mantinham o olhar fixo e cheio
de ódio na floresta, alguns traziam consigo um enorme machado e o seguravam com
as duas mãos, já outros seguravam em cada mão machados menores porém tão
perigosos quanto os de duas mãos, usavam como armadura apenas pequenas tiras de
couro seco e crânios humanos pendurados na cintura como troféus de
antigas batalhas vencidas.
Brauz ainda
chocado com a sena de seu amigo ser dilacerado bem em frente aos seus olhos se
fortaleceu com as lembranças que tinha vivido com ele e através delas teve
forças pra soltar um grito de reação:
- Arqueiros agora!
Imediatamente
uma saraivada de flechas saiu por entre as árvores e cobriu por completo o
brilho que a lua negra emitia, o céu se fez mais negro e em menos de segundos
os seres foram amaldiçoados com uma chuva de flechas élficas envenenadas. Mais
da metade deles caíram no chão, porém em instantes se levantaram e mesmo com o
efeito do veneno no sangue continuaram a correr freneticamente ao encontro das
arvores.
- Arqueiros novamente! – Gritou
Brauz.
Outra
saraivada de flechas caiu sobre eles, e a cena se repetiu, os seres se
levantaram e continuaram correndo ao encontro dos elfos. Brauz então ordenou
que soltassem as feras e imediatamente ursos que chegavam a medir 5 metros,
lobos cinzentos medindo 3 metros e grandes águias saíram das árvores. Os ursos
e os lobos se chocaram com os seres sem cor e então muitos deles voaram a
metros de distancia com a força das feras, as águias davam rasantes ao encontro
do chão e com suas garras pegavam os seres e jogavam nos rochedos aos pés das
montanhas. O som dos machados e urros das feras era ouvido ao longe.
Brauz vendo
que os seres sem alma estavam sendo tomados por suas feras, gritou a seus
guerreiros:
- Atacar!!
Então muitos
elfos saltaram das árvores, e em uma velocidade impressionante começam a
atacar, não usavam suas lâminas mais de uma vez por criatura, seus golpes eram
objetivos e mortais, acertavam órgãos vitais e decepavam seus inimigos com
apenas um corte.
A batalha
parecia estar ganha pelos elfos e ainda estavam no meio da noite, longe do
nascer do sol. Então um som muito alto cortou o ar gelado da noite vindo das
montanhas, era o som de um chifre nórdico, que se assemelhava a uma corneta de
som mais grave, logo após o término do som se iniciou um rugido estrondoso que
fez tremer o corpo de cada ser vivente que se encontrava em cerca de 100 milhas
dali.
Ouviram-se
então sons de pegadas que se aproximavam do local onde estava sendo traçada a
batalha. Os elfos e os seres sem cor olharam para a base das montanhas geladas
e viram cortar a névoa grandes patas, eram cinco feras enormes, medindo mais de
vinte metros cada, cuja nevoa impedia de ver o rosto. Estas feras pisotearam
elfos, ursos, lobos e até mesmo os orcs albinos, de cima das feras vinham
saraivadas de flechas que acertavam todos que estavam abaixo delas. As feras
gigantes possuíam chifres em suas faces que desciam ate o chão e uma enorme
tromba que rompia a multidão de guerreiros à medida que caminhavam.
Brauz vendo
aquilo ordenou:
- Arqueiros, acertem a face
destas feras!
Várias
saraivadas de flechas romperam o ar e a densa névoa ao encontro da face das
feras, duas caíram e os guerreiros que estavam encima delas também, eram os
mesmos seres albinos, porém manuseavam arco e flechas ao invés de machados. O
restante dos elfos, ursos e lobos que estavam no campo de batalha atacaram os
arqueiros albinos e os mataram rapidamente. As três feras restantes invadiram a
floresta e começaram a derrubar as árvores da densa mata como se não fossem
nada.
Brauz se
sentiu impotente em relação às feras que começaram a caminhar mata adentro.
Tudo parecia perdido para o seu exercito de defesa, eles tinham falhado, todo o
esforço e treinamento tinham sido em vão. Todos os elfos restantes da batalha
estavam com os olhos voltados para as três feras que invadiam rapidamente a sua
amada floresta. Logo foram surpreendidos por mais gritos vindos das bases das
montanhas geladas. Eram mais orcs albinos, desta vez montados em cachorros gigantes,
tinham olhares cheios de ódio e expressões horrendas em suas faces, um deles
era muito maior que os outros e portava um machado enorme em cada mão. Os elfos
sem muita escolha correram de volta para a floresta e os ursos, águias e lobos
restantes foram ao encontro dos seres sem cor visando ganhar tempo para os
elfos, mais infelizmente não conseguiram segura-los por muito tempo, todas as
feras da floresta foram dilaceradas, o enorme orc albino que corria na frente
partia as águias e os ursos ao meio com seus machados, os lobos foram mortos
facilmente pelos outros orcs.
Os elfos
conseguiram chegar à floresta e la começaram a ativar todas as armadilhas
visando impedir a entrada dos orcs albinos e para sua felicidade a estratégia
de defesa das armadilhas deu certo, pois antes de entrarem na floresta, os orcs
albinos estavam em trezentos e a cada metro que avançavam caiam em buracos com
estacas envenenadas, ativavam mecanismos que disparavam centenas de flechas
também envenenadas, eram esmagados por troncos enormes e em menos de uma milha
floresta adentro restavam apenas vinte, e entre eles o orc maior também havia
sobrevivido, eles tinham parado em uma planície com vegetação rasteira, sem
nenhuma arvore por perto. Vendo a situação vantajosa Brauz e os elfos restantes
atacaram o pequeno grupo de orcs e mataram todos com facilidade, com exceção do
maior, que matava qualquer elfo que chegasse a menos de dois metros de onde ele
estava. Brauz então pediu que os elfos parassem os ataques e cercassem o orc.
O grande orc
sobrevivente, era chamado de Thuruk, estava com o corpo repleto de cortes e
flechas quebradas na metade, o veneno parecia não surtir efeito nele, estava
com a respiração forte e um olhar cansado, segurava em suas mãos de um modo
firme dois machados com as lâminas cobertas de sangue.
- Como você é chamado orc? –
Perguntou Brauz
Antes de
responder, o orc foi interrompido pelo som de uma estrondosa explosão que
rasgou o céu seguida de um clarão que fez a noite se tornar dia por alguns
instantes, ela vinha do interior da floresta, na direção em que as gigantescas
feras tinham ido. Todos os elfos tiraram o olhar de Thuruk e voltaram a atenção
para o centro da floresta, pois a preocupação deles com seu reino era maior que
a de um orc ferido no meio da floresta.
Thuruk
aproveitou a oportunidade e abriu caminho empurrando os elfos em direção a
saída da floresta, Brauz e os outros o ignoraram e foram na direção da
explosão. Thuruk conseguiu sair da floresta e voltou para as montanhas geladas.
Os elfos
caminharam sem descansar por cinco horas mata adentro, na direção do reino e no
meio do caminho foram surpreendidos, todos pararam imóveis em frente ao corpo
das três feras gigantes e dos orcs que estavam encima delas.
- Se acalme minha criança,
o mal teve seu fim aqui.
Era Fwina, um
dos três líderes élficos do reino, portadora da magia élfica. Fwina era muito
sábia e portava consigo um olhar e um sorriso doce que acalmava qualquer pessoa
que a visse.
Brauz então se
ajoelhou em meio a vegetação rasteira, colocou suas mãos no chão e sentiu o
leve orvalho da madrugada nas pontas das plantas refrescar seus dedos, sentiu a
umidade da floresta e ouviu os sons que ela emitia, levantou os olhos para o
céu de inverno, o sol começava a nascer e a densa névoa da noite começava a enfraquecer,
ele podia sentir alguns fracos raios de sol tocando sua face, seu corpo de
repente se fez pesado e ele pôde sentir a dor dos ferimentos que tinha sofrido
durante a batalha. Ali Brauz respirou fundo e em um gesto de como tivesse
tirando um peso muito grande dos ombros caiu no chão desacordado e tranqüilo
sabendo que tinha cumprido seu objetivo.
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